A seca chegou: o que fazer com meus pastos?

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As pastagens tropicais se caracterizam por uma marcante estacionalidade de produção, com crescimento abundante no período de chuvas e baixa taxa de acúmulo de forragem na seca.

Para se ter um sistema de produção estável e evitar o famoso “boi sanfona” há que se fazer  o manejo do pastejo encontrando um balanço eficiente entre o crescimento da planta, o seu consumo e a produção animal. Para isso, as estratégias de manejo do pastejo passíveis de manipulação são o método de pastejo e o ajuste da taxa de lotação.

Os métodos de pastejo podem ser basicamente três:

1) o contínuo: no qual os animais têm acesso integral à área de pastejo;

2) o rotacionado: onde os animais permanecem em subdivisões do pasto seguindo para outras subdivisões para permitir um período de descanso entre pastejos;

3) e o diferido: no qual os pastos são vedados no final do verão para serem utilizados durante o período de seca.

Como a exigência nutricional do rebanho é constante ou crescente, se for de animais em crescimento, há um desequilíbrio ao longo do ano entre a produção de forragem e o requerimento de nutrientes pelo rebanho.

Por isso, o manejo dos pastos e o ajuste na taxa de lotação devem ser usados como instrumentos para equilibrar as variações estacionais dos pastos com as demandas nutricionais do animal.

O ajuste na taxa de lotação é imprescindível, sempre respeitando o hábito de crescimento da forrageira, a fim de manter a perenidade das pastagens. Consulte o aplicativo PastoCerto, que explica as necessidades de cada cultivar forrageira nas questões de manejo.

Assim, a estruturação de sistemas de produção sustentáveis de bovinos em pastos, resume-se basicamente no manejo correto dos pastos durante o período das águas (outubro a abril), de preferência de diferentes gêneros de forrageiras e no uso da suplementação alimentar ou pastos diferidos durante o período seco (maio a setembro).

Nesse período, ocorre marcante redução na produção de forragem e, consequentemente, na produção animal. A suplementação alimentar tem sido utilizada com sucesso para resolver este problema. No caso da suplementação em pasto, o que deve ser feito é atender as exigências dos animais, complementando o valor nutritivo da forragem de forma a se atingir o desempenho desejado.

Apesar da estratégia de suplementação ser dependente da meta de desempenho animal que se deseja alcançar, sua escolha deverá também ser fundamentada em análise econômica. A rentabilidade da estratégia de suplementação alimentar se constitui no norteador da escolha do suplemento a ser utilizado.

Um resumo de dados compilados sobre o efeito da suplementação alimentar sobre o ganho de peso animal e sobre a conversão alimentar em pastagens durante o período seco foram ressaltados alguns pontos importantes:

1) as menores quantidades de suplemento proteico atenuaram a limitação dos baixos conteúdos de N das forragens no período seco e aumentaram a ingestão de matéria seca, o que resultou em maior consumo da forragem suplementada em relação à não suplementada e, consequentemente, em boa resposta à suplementação;

2) à medida que se aumentou a oferta de concentrado, houve aumento do efeito substitutivo, resultando em ganhos de peso decrescentes;

3) para valores acima de 4 a 5 kg de concentrado ocorreu redução no ganho de peso.

Isso os levou a sugerirem que a preferência por suplementações mais modestas contribuiria para a melhoria econômica dos sistemas produtivos, não apenas pela redução do investimento, mas também pelo aumento da eficiência no uso dos insumos, especialmente pela maximização do uso da forragem existente no pasto.

Esses resultados reforçam a tese de que a suplementação alimentar deve ser usada como estratégia de complementação do valor nutritivo da forragem existente, possibilitando maior eficiência na sua utilização.

Para se obter bom resultado com a suplementação, faz-se necessário o manejo do pasto com base no planejamento e no monitoramento cuidadoso, de modo a assegurar oferta satisfatória de forragem. Ressalta-se que quanto maior for a proporção de nutrientes provenientes do pasto, maior será a possibilidade de o sistema ser rentável.

É importante lembrar que, se por um lado as pastagens comportam elevado número de animais nas águas, este número se reduz drasticamente durante a seca. Então, para se intensificar a produção das pastagens no período das águas, o produtor deverá fazer a aplicação de fertilizantes e depois preparar pastos diferidos para a seca e fazer ou adquirir alimentos suplementares para serem utilizados durante o período seco.

A diversificação das pastagens pode ser uma maneira simples de solucionar este problema. Assim, recomenda-se que os pastos mais produtivos tenham seu uso concentrado no período das águas, sendo manejados como descrito acima, para permitir o melhor aproveitamento da forragem de alta qualidade produzida.

Complementarmente, forrageiras de potencial produtivo menor poderiam ser pastejadas durante as águas, permitindo assim o ajuste do manejo das áreas mais produtivas. E aquelas forrageiras apropriadas para o diferimento poderiam ser vedadas no fim do verão para serem pastejadas durante a seca.

Baseado nesses critérios, um sistema factível seria composto pela combinação de pastos de cultivares de Panicum maximum (entre 20-30% da área) com Braquiária (80-70% de área). Durante o período das águas usam-se intensivamente os coloniões com reposição anual de NPK, utilizado sob pastejo rotacionado.

Nesse período, os pastos de braquiárias ficam subutilizados, sob lotação contínua, sendo vedados a partir de fevereiro, quando se deve fazer uma adubação estratégica de N.

Durante o período seco a utilização dos pastos deve ser revertida, ou seja, enquanto nos coloniões a taxa de lotação é diminuída, nas braquiárias estas seriam elevadas, sendo a dieta dos animais complementada por suplementação alimentar.

Nesse sistema, é possível manter o ganho de peso no período seco e conseguir animais prontos para o abate em menos tempo. Como discutido acima, é possível mitigar o efeito da estacionalidade de produção forrageira, mas o planejamento e o uso de cultivares bem selecionadas é crucial.

Como tudo na vida, não há milagres, mas a informação e a tecnologia estão disponíveis a todos que desejem ter uma produção sustentável por todo o ano.  Façam bom uso delas, consultando sempre o site da Unipasto.

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